sexta-feira, 7 de julho de 2017

A Companhia Cinematográfica Vera Cruz






A Companhia Cinematográfica Vera Cruz é um importante estúdio cinematográfico brasileiro, que produziu filmes entre 1949 e 1954. Fundada em São Bernardo do Campo, pelo produtor italiano Franco Zampari e pelo industrial Francisco Matarazzo Sobrinho em 4 de novembro de 1949, a companhia produziu e coproduziu mais de 40 filmes de longa metragem.

Lista de filmes da Vera Cruz
Painel - 1950 - documentário dirigido por Lima Barreto
Santuário - 1950 - documentário dirigido por Lima Barreto
Caiçara - 1950 - drama dirigido por Adolfo Celi
Ângela - 1951 - drama dirigido por Abílio Pereira de Almeida e Tom Payne
Terra é sempre terra - 1951 - drama dirigido por Tom Payne
Apassionata - 1952 - drama dirigido por Fernando de Barros
Veneno - 1952 - drama dirigido por Gianni Pons
Tico-tico no Fubá - 1952 - drama biográfico dirigido por Adolfo Celi
Sai da frente - 1952 - comédia dirigida por Abílio Pereira de Almeida
Nadando em dinheiro - 1952 - comédia dirigida por Abílio Pereira de Almeida e Carlos Thiré
Sinhá Moça - 1953 - drama dirigido por Tom Payne
A Família Lero-Lero - 1953 - comédia dirigida por Alberto Pieralise e Gustavo Nonnemberg
O cangaceiro - 1953 - drama dirigido por Lima Barreto
Uma pulga na balança - 1953 - drama dirigido por Luciano Salce
Esquina da ilusão - 1953 - comédia dirigida por Ruggero Jacobbi
Luz apagada - 1953 - drama dirigido por Carlos Thiré
Obras Novas - 1953 - documentário sobre a construção dos estudios da Vera Cruz
É proibido beijar - 1954 - comédia dirigida por Ugo Lombardi
Na Senda do Crime - 1954 - policial dirigido por Flaminio Bollini Cerri
Candinho - 1954 - comédia dirigido por Abílio Pereira de Almeida
Floradas na Serra - 1954 - drama dirigido por Luciano Salce
São Paulo em festa - 1954 - documentário dirigido por Lima Barreto


























O início

Embora possuísse capital para manter a companhia e a administrasse com seriedade, Franco Zampari pouco entendia de cinema; se dava melhor com o teatro. Portanto, chamou o renomado Alberto Cavalcanti, que havia obtido fama e experiência no cinema inglês, para montar a Companhia. Ele trouxe dezenas de técnicos estrangeiros, que trabalhavam em um sistema burocrático e complicado, incompatível ao mercado brasileiro. A justificativa era de que não havia profissionais suficientemente capacitados no país, o que afetaria a ambição da empresa, que era a de atingir padrões internacionais, realizando um cinema de bases industriais. Depois das custosas primeiras produções, desavenças fizeram Cavalcanti ser demitido do cargo de Produtor Geral em 1951. O papel ficou para Fernando de Barros, comerciante português que havia tido experiência com o cinema carioca da época e que também tinha o compromisso de baratear as produções.

Sob a supervisão de 'Cavalcanti', foram feitos os longas Caiçara e Terra é sempre Terra e os curtas Painel e Santuário.


Durante os três anos seguintes, a empresa chegou ao auge. Alguns de seus filmes circularam no exterior e galgaram prêmios nos mais importantes festivais do mundo, como Cannes e Veneza. O Cangaceiro, por exemplo, faturou 50 milhões de dólares e foi distribuído em mais de 80 países [5] . Contudo, o montante obtido quase não voltava para empresa, já que os filmes eram todos distribuídos pela Columbia Pictures, que comprava as fitas por preços baixos, comparados ao mercado internacional.

Dessa forma, a Vera Cruz mergulhou em um processo de endividamento irreversível, causado por custosas produções - que se tornavam ainda mais caras por atrasos nas filmagens - e o pouco retorno financeiro relacionado diretamente aos problemas de distribuição. Segundo depoimentos [6] , a situação chegou a esse ponto por conta da inexperiência de Zampari, que não estudou o mercado antes de fundar a empresa. Naquela época, a ausência de um sistema próprio de distribuição para filmes brasileiros fazia com que os distribuidores e exibidores de filmes ficassem com mais de 60% da arrecadação das produções. Além disso, por conta da alta inflação, preços dos ingressos das salas de cinema eram tabelados, o que reduzia o valor real do ingresso e a arrecadação dos filmes. No entanto, para filmes estrangeiros, o governo brasileiro pagava a diferença entre o câmbio do dólar oficial e do paralelo, impedindo que houvesse perdas inflacionárias e criando concorrência desigual de filmes estrangeiros no mercado nacional.

A empresa também sofria de problemas estruturais. Zampari confiava cargos altos a pessoas incompetentes; dentre muitos casos, se destacam o de seu irmão Carlo, que foi administrador de produção e pouco entendia do ramo - havia sido comandante da marinha italiana durante a vida -, e do diretor Adolfo Celi, que, embora tenha dirigido peças no Teatro Brasileiro de Comédia, nunca havia tido contato com cinema antes de Caiçara. Também aconteceram casos de corrupção na contabilidade, atrasos de salários e enormes desperdícios de material, principalmente de rolo de filme - item produzido no exterior e de alto valor na época.

Em 1953 para tentar reverter a situação, a diretoria da empresa fez um empréstimo de 100 milhões de cruzeiros, valor considerado exorbitante à época. Com o montante, a Vera Cruz montou três linhas de produção diversificada: filmes de apelo popular (como A Família Lero-Lero e Candinho), superproduções com pretensão de lançamento no exterior (como O cangaceiro e Sinhá Moça) e filmes de arte voltados ao mercado interno (como Veneno e Apassionata).

A adoção do novo arranjo produtivo não conseguiu, entretanto, salvar a Vera Cruz da falência. No fim de 1954, o Banco do Estado assumiu as ações e tomou conta da companhia, que funcionou produzindo filmes menores até final dos anos 1950



Legado

Apesar de ter existido por apenas 5 anos, a Vera Cruz formou uma geração de cineastas e profissionais de cinema. A qualidade técnica e artística de seus filmes marcou uma época e mostrou a viabilidade do cinema brasileiro. Michael Stoll, um dos técnicos de som, fundou mais tarde o estúdio paulista Álamo, em 1972. Foi na Vera Cruz que surgiu uma das mais importantes personalidades do cinema brasileiro: Amácio Mazzaropi[7] , indiscutível campeão de bilheteria até a década de 1970.

A experiência da Vera Cruz de dificuldade na inserção de filmes no mercado brasileiro e internacional foi importante, também, para a criação da Embrafilme, em 1969, uma empresa estatal brasileira produtora e distribuidora de filmes cinematográficos.

Carro usado em gravações externas tinha câmera acoplada no capô (Foto: Arquivo Companhia Cinematográfica Vera Cruz)

Produções

Durante os quase 5 anos de funcionamento, a companhia realizou 22 filmes de curta, média e longa-metragem.

Sua primeira produção foi o filme Caiçara, dirigido pelo italiano Adolfo Celi e todo filmado em Ilhabela, litoral de São Paulo, para onde foram deslocados o elenco, a equipe técnica e os pesados equipamentos de filmagem. A produção foi cercada de grande publicidade e teve como protagonista Eliane Lage.

O reconhecimento internacional da Vera Cruz veio com O cangaceiro, premiado no Festival de Cannes. Antes, o diretor Lima Barreto já havia sido premiado, mas por curta-metragens: em 1950, fez Painel e Santuário, sobre as pinturas de Aleijadinho, igualmente premiado em Cannes.

Imagens de bastidores da gravação do filme 'Tico-tico no Fubá' (Foto: Arquivo Companhia Cinematográfica Vera Cruz)
Documentário sobre a Companhia Cinematográfica Vera Cruz 



Este documentário contou com a participação dos profissionais:
Inezita Barroso - Atriz
Renato Consorte - Ator
Galileu Garcia - Produtor
Mauro Alice - Montador
Pierino Massenzi - Cenógrafo
Walter Hugo Khouri - Cinesta
Sérgio Martinelli - Autor do Livro Vera Cruz
Carlos Augusto Calil - Professor de Cinema da ECA/USP
Ismail Xavier - Professor de Cinema da ECA/USP

























Documentário "Memória Vera Cruz" mostra filmes estrelados por Inezita Barroso


O documentário "Memória Vera Cruz: A Recuperação de um Sonho" apresenta diversos filmes que a cantora e atriz Inezita Barroso interpretou no cinema antigo brasileiro. Assista e confira os depoimentos!

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